O ritmo das sociedades ocidentais nem sempre respeita as necessidades emocionais e fisiológicas do ser humano.
Vivemos tempos desafiantes e acelerados, em que múltiplos estímulos disputam a nossa atenção em permanência, em que o ritmo de mudança e aprendizagem são intensos. A aldeia global em que vivemos gera um mercado profissional mais competitivo e a necessidade de lidarmos com pessoas de diferentes culturas. Tudo isto resulta em oportunidades mas também em dificuldades acrescidas.
Assim, podemos enumerar quatro principais razões pelas quais cada vez mais pessoas procuram recursos sobre inteligência emocional:
1. Liberdade pessoal: há uma vontade crescente de liberdade pessoal e isso passa por aprender a regular-se as nossas emoções para que o nosso corpo e o que sentimos sejam aliados nos processos de tomada de decisão e não nos transformem numa espécie de fantoches reativos e excessivamente vulneráveis às circunstâncias. Para conseguirmos pensar de forma mais isenta, precisamos de sermos capazes de diferenciar pensamentos de factos e perspetivas de realidade, num trabalho de flexibilização do nosso mindset, com mais empatia e curiosidade pelo que nos habita do que culpa e julgamento.
2. Relações: seja a nível familiar, romântico, social ou profissional lidar com pessoas comporta um nível de desafio. Para conseguirmos nos ligar ao outro sem perdermos a nossa identidade, para sermos capazes de amar e ocupar um lugar de vulnerabilidade sem nos sentirmos a perder a nossa segurança pessoal, para desenvolvermos relações positivas com pessoas diferentes, com histórias de vida e culturas distintas das nossas, há que desenvolver competências de inteligência emocional. Quando não conseguimos identificar as nossas emoções e pensamentos, teremos mais dificuldade em nomear as emoções e pensamentos de outros. Quando nos escutamos mais a nós do que ao outros, numa busca permanente pela razão, é natural que surjam conflitos e uma comunicação pouco eficaz e pouco satisfatória. Ligarmo-nos a um outro implica gerir diferenças e desenvolver a capacidade de escuta ativa e de empatia.
3. Liderança e diferenciação profissional: muitas são as pessoas que quando pretendem desenvolver o seu potencial profissional, evoluir a nível de carreira e assumir uma posição de liderança investem em recursos de inteligência emocional. Porque existe uma grande diferença entre chefiar e liderar, entre ter poder hierárquico e inspirar, entre mandar e motivar. Assim, boas competências de inteligência emocional ajudam a lidar com prazos apertados e sobrecarga de trabalho, a mediar conflitos, a comunicar de forma mais eficaz e a promover motivação intrínseca no grupo de trabalho.
4. Mal-estar / sofrimento: um outro movimento que alavanca busca de recursos em inteligência emocional junto de muitas pessoas é o sofrimento ou doença psicológica. Pessoas que em algum momento sentem-se reféns do seu corpo, de sensações e emoções que não conseguem controlar nem compreender, de pensamentos acelerados que não lhes dão descanso. Por isso, o mal-estar às vezes também é gerador de procura de ajuda e promotor de desenvolvimento pessoal.
Quando procuramos competências de inteligência emocional imediatamente confrontamo-nos com dois grandes desafios: nós somos os agentes de mudança, pelo que é por nós que vale a pena começar a treinar; e sem prática não há aprendizagem. Ler sobre inteligência emocional pode ser interessante mas terá pouco impacto se não nos comportarmos de forma alinhada com o que lemos, se não começarmos por nós, se não formos consistentes nas nossas práticas, orçamentando espaço para alguma dose de desconforto.
Esse de resto é um terceiro grande desafio: o desconforto. Aprender a pensar de forma diferente, estarmos com todas as nossas emoções, as agradáveis e as desagradáveis, permitirmo-nos a experienciar um lugar de vulnerabilidade traz novidade e desafio, o que gera uma dose de desconforto. Tudo o que é diferente do que estávamos habituados a fazer implica essa saída da nossa zona mais familiar e de um piloto automático.
Destacaria um quarto desafio: as expectativas. Ter mais inteligência emocional não é estar imune ao sofrimento, às dificuldades diárias, a desencontros de comunicação e conflitos, a emoções mais exigentes e desagradáveis. Ter um músculo emocional mais robusto é ter a capacidade de lidar melhor com o que acontece, é ter a possibilidade de ressignificar acontecimentos diários de forma produtiva, sempre com vista a evoluirmos enquanto pessoas.
Escrito por:
A Filipa Jardim da Silva é Psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Master Life Coach.
Formadora Certificada desde 2005 é autora do Livro Dar a Volta (2019) e Co-Autora do Livro Intervenção em Psicologia Clínica (2020).
Tem formação avançada em Comportamento Alimentar e em algumas abordagens psicoterapêuticas.
Desde 2008 tem integrado equipas em variados contextos. Em 2017 criou a sua marca pessoal que conta hoje com uma vasta equipa de profissionais de saúde, todos unidos pela mesma missão: potenciar maiores níveis de saúde psicológica e física.
Assume-se uma agente de transformação em todos os projetos em que se envolve.
É uma presença assídua em diversos órgãos de comunicação social, promovendo a disseminação de conteúdos de saúde psicológica junto da população em geral.
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